segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Fragmentos de uma alma atormentada - 2

Capitulo2
Caminhava em busca da terra dos sonhos, mas tudo o que encontrava era um vazio. Escuro. Sem luz. Perdido, estava-me a sentir. Ao meu redor o negrume de uma solidão sombria. Sinto no ar um cheiro esquisito, indecifrável...no início.

     Mexo um braço e sinto algo, o outro braço também se mexe e bato de novo em algo, parece o som de madeira. E da escuridão fez-se luz. De repente tudo faz sentido....

     Escuridão, madeira, o vazio, o cheiro....cera queimando!!! Estou morto. Socorro! Não! Meus sonhos, não fujam por favor... voltem! Quero-te. Amo-te! Volta! Quero voltar. Os braços, as pernas, todo meu corpo, tentam soltar-se daquela prisão sem grades, que não me prendem, mas puxam-me para longe... de ti. Do nosso amor. Amo-te. Perdi-te. Morri. Sofres? Oh, como sofres... Volta. Meus sonhos? Mortos. Esquecidos. Irrealizáveis.

     Continuo sem desistir. Tentar. Sair daquele caixão e... ela caí. A tampa. Dezenas de rostos, olhando para mim, e dizendo aquilo que eu sempre lutei para não ouvir. Escuto. Eu não era ninguém... Nunca fui! Era menos que nada... um miserável grau de areia que não importa ter partido, e.... vejo-te... minha amada. A chorar. A única que chorava a minha ida sem volta. A única que viu quem eu sou. Como sou. Porque sou. E choro contigo. Estendo a mão tentado alcançar-te. Tocar-te. E falo: Amo-te. Mas não escutas, não ouves as minhas palavras envoltas de profunda tristeza. Nossos sonhos?! Destruídos. Esvanecidos. Tomados numa guerra em que não saí vencedor.

     A imortalidade não alcancei... certamente serei esquecido... em breve. Em breve. Queria ser lembrado mas... pelo quê? O que eu fiz? O que eu fui? Ninguém... Nada... Menos que nada. Queria te ver pela última vez, tocar-te, sentir-te. Beijar-te, e... vê-lo. Choro por não o ver. Ele. O fruto do nosso amor. Já não o vou ver crescer... e choro. Reclamo uma última oportunidade. Mas Deus não me escuta. Talvez esteja a repousar, ou.... Talvez mereça este castigo.

     Levanto a cabeça na tentativa de o ver dentro de ti. E lá estavas. Sentada. Ele dentro de ti. Sorrio. Feliz, sinto-me. Como por magia ou apelo divino, vens de novo junto a mim e consigo beijar onde ele está a crescer. Tua barriga. Teu corpo. Que eu amo. Que eu não vou mais tocar. Choro. Queria entrar no teu coração e impedir que a tristeza te conquiste. Jurei um dia que nunca te iria ver a sofrer. A infelicidade não combina com o teu rosto, com o teu coração. Sempre te disse isso. Sempre. E tu escutavas. Mas agora já não me ouves. Perdi-te. Quero voltar... Por favor... Nosso filho. Nosso amor. Nós. Dois. Três... Não! Morto. Morto... Perdi-te. Perdi-os...

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