Caminho pela rua em direcção ao mar, apercebo-me do que me rodeia, as pessoas na sua correria estonteante, os carros a passarem desenfreadamente, o sol a queimar o meu rosto, o ceú a desenhar o meu destino e o chão a pisar-me alma. De repente paro. Eis ali... o mar. A fina areia começo a sentir. Debaixo dos pés. As gaivotas na praia fugindo como que se apercebendo do sofrimento contagiante que contenho, e... sento-me. Pensativo.
As ondas na sua quietude, de ida e volta constante, iam me molhando os pés, começo a sentir um frio que me lava o coração, de todo o mal que me causaste. Tu...
Nas pequenas poças, o teu reflexo era uma miragem para mim, no brilho do sol via a negritude do teu desencanto, que me enganou e que me fez sofrer. Eis me aqui... e tu?
Uma gaivota mais corajosa, aproxima-se, pé ante pé. Olho-a. Admiro a sua beleza, a candidez das suas penas, fazem-me lembrar a ingenuidade dos meus pensamentos e a honestidade dos meus actos. Tanto que fiz por ti, tanto que lutei, me sacrifiquei...a recompensa? Sofrimento. Falsidade. Mágoa. Desespero.
Mas eis que outra gaivota surge, juntando-se à que estava do meu lado. Parece que me observam, que estarão a pensar?
Estarão a cogitar... Que fará aqui este ser tão estranho no areal, a olhar para o infinito, pensativo... chorando... sofrendo. Sentirão elas o que me vai no coração? Serão 2 anjos que Deus enviou para me proteger e evitar que cometa uma loucura? Será?
Mas aos poucos, ás 2 gaivotas se juntaram mais e mais e mais... Todas tinham perdido o medo, todas sentiam-se bem do meu lado, sentiam se seguras, sabiam que não lhes faria mal, que apesar de ser diferente, jamais iria magoa-las ou faze-las sofrer e lembro-me... deles. E agradeço a Deus, o seu sinal.
Lembro me Deles... dos meus amigos, da minha família, das pessoas que me querem bem e que me amam de verdade, que nunca me irão magoar ou abandonar.
Ele as enviou. Como um símbolo. Não vale a pena amar ou sofrer por quem não merece, ou por quem não dá valor para todos os sacrifícios, todo o carinho, e toda a felicidade que se tenta dar e que se quer receber também.
Sempre será preferível estar rodeado de seres em que confiam, respeitam e amam realmente por aquilo que se é e não por aquilo que lhes possa dar.
Obrigado gaivotas...